Sobre a autora

Sobre a autora
Lucia Escosteguy é mãe, avó, sogra, aposentada. Em sua vida intensa e inquieta, foi bancária, professora, funcionária pública, pianista, pintora, ceramista, desenhista de arquitetura, programadora, três vezes vencedora de concursos públicos e graduada em Letras já com idade. Pesquisadora experiente em genealogia, estreia agora em grande estilo como escritora com esta obra-documento sobre a origem de sua família e a história do Rio Grande do Sul.

O Rincão do Cristóvão


  – Que le pasa, amigo? Sientese por favor. Todavia no se acabo el baile – falou Cristóvão, com o parco castelhano aprendido naquele pouco tempo que estava na Colônia.

Ato contínuo, vira-se para o taverneiro e grita:

– "Ô Manel, traga-me lá uma bola de queijo fresco e um bom naco de marmelada para que leve dom Cipión uma doce recordação do nosso encontro."

Esse "dom" era Cipión Camacho, famigerado facínora que volta e meia vinha a Sacramento com seu bando e aterrorizava a vila com suas inúmeras tropelias, a tal ponto que o simples boato de que ele rondava as muralhas da Colônia já provocava verdadeiro pânico no povo, que tratava de trancar sua portas e janelas e esconder muito bem suas filhas donzelas. A guarnição se punha de prontidão, e as beatas corriam para a igreja para rezar e acender velas aos santos.

E por que as autoridades suportavam isso sem tomar providências mais enérgicas? Acontece que Cipión Camacho trazia couros e outros artigos que os comerciantes não se atreviam a rejeitar porque valiam seu peso em prata. E o dinheiro sempre fala mais alto.

Até Cristóvão, dessa vez, tinha se interessado por uma partilha de couros do sacripanta, e depois de vistoriar a carga, negociar e barganhar, acabou fechando o negócio. Terminada a negociação, Cristóvão virou-se para ir embora, quando Cipión lhe segura pelo braço e com um sorrisinho cretino lhe diz:

– "No se vá todavia, paisano. Le invito a pagar el almuerzo, a mi e a mis hombres. Por su cuenta, claro."


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