Sobre a autora

Sobre a autora
Lucia Escosteguy é mãe, avó, sogra, aposentada. Em sua vida intensa e inquieta, foi bancária, professora, funcionária pública, pianista, pintora, ceramista, desenhista de arquitetura, programadora, três vezes vencedora de concursos públicos e graduada em Letras já com idade. Pesquisadora experiente em genealogia, estreia agora em grande estilo como escritora com esta obra-documento sobre a origem de sua família e a história do Rio Grande do Sul.

Os Tropeiros nos Campos da Vacaria

 



    Tropeiro, condutor de tropa, arrieiro ou bruaqueiro eram alguns dos nomes dados aos condutores de gado em comitivas de muares e cavalos que iam dos centros produtores até os centros consumidores a partir do século XVII. No Sul, eram também chamados de carreteiros, por causa das carretas que levavam junto com as tropas.

    O conhecimento dos portugueses sobre o território do Continente era mais antigo que o dos espanhóis, uma vez que já a partir do século XVI os paulistas, embarcados em lanchões, penetravam na barra do Rio Grande e escambavam com os guaranis que vinham pescar e caçar às margens das lagoas. Em troca de produtos manufaturados, levavam dos índios: cativos, cera, caça, alimentos, etc. Essa era, porém, uma atividade economicamente muito insignificante.

    Um século mais tarde, portugueses e espanhóis caçavam o gado missioneiro bravio das Baquerias, extraindo couro, língua e sebo e produzindo algum charque. Os castelhanos que tinham licença do cabildo de Buenos Aires eram chamados corambreros; e os que faziam isso clandestinamente eram os changadores. [...]


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Não se Confisca um Butim Impunemente

 



   
    Era lá pelo ano de 1687. Escondido atrás de uma árvore, o índio observava o movimento na praia e um patacho inglês ancorado na água mais adiante. Sem dúvida nenhuma, piratas. Correu a avisar o patrão.

    Alertado pelo índio, Dias Velho – o patrão – tratou logo de subir a bordo e prender o pirata e toda a tripulação, levando para a terra toda a mercadoria que encontrou no dito navio. Ato contínuo, remeteu todos presos para Santos, onde o ouvidor geral procedeu ao interrogatório de praxe, com a ajuda de um intérprete e a presença do procurador da coroa, Diogo Ayres de Aguirre.

    A essa altura, já estávamos a 26 de fevereiro de 1688. Tomaz Frins – o corsário inglês [...]


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O Tenente e o Cacique



– "Se te mexes daí eu vou ver o sol do outro lado da tua cabeça" – disse o tenente Nunes ao índio que o insultava e agredia.

[...]

    Muito tempo depois da guerra, estava Nunes de volta à sua vida campesina, em seu negócio com os índios, quando, um dia, vindo ele com cargueiros repletos de mercadorias, deu uma aguardente de presente ao cacique amigo, que bebeu demais e acabou pegando no sono. Vai daí que um índio subchefe do cacique, que não gostava dele, se aproveitou que o cacique embriagado dormia, e começou a agredir e a insultar Nunes.
    E aí aconteceu o fato que começávamos a narrar na primeira linha deste texto. Ao receber as agressões e insultos do índio, Nunes saca imediatamente da pistola e diz, em língua indígena, que ele conhecia muito bem: – "Se te mexes daí, eu vou ver o sol do outro lado da tua cabeça."
    Imediatamente o cacique acorda, levanta de um salto e dá no índio com o cabo de ferro de um relho, quebrando-lhe a cabeça, e o índio cai por terra.  [...]

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O Rincão do Cristóvão


  – Que le pasa, amigo? Sientese por favor. Todavia no se acabo el baile – falou Cristóvão, com o parco castelhano aprendido naquele pouco tempo que estava na Colônia.

Ato contínuo, vira-se para o taverneiro e grita:

– "Ô Manel, traga-me lá uma bola de queijo fresco e um bom naco de marmelada para que leve dom Cipión uma doce recordação do nosso encontro."

Esse "dom" era Cipión Camacho, famigerado facínora que volta e meia vinha a Sacramento com seu bando e aterrorizava a vila com suas inúmeras tropelias, a tal ponto que o simples boato de que ele rondava as muralhas da Colônia já provocava verdadeiro pânico no povo, que tratava de trancar sua portas e janelas e esconder muito bem suas filhas donzelas. A guarnição se punha de prontidão, e as beatas corriam para a igreja para rezar e acender velas aos santos.

E por que as autoridades suportavam isso sem tomar providências mais enérgicas? Acontece que Cipión Camacho trazia couros e outros artigos que os comerciantes não se atreviam a rejeitar porque valiam seu peso em prata. E o dinheiro sempre fala mais alto.

Até Cristóvão, dessa vez, tinha se interessado por uma partilha de couros do sacripanta, e depois de vistoriar a carga, negociar e barganhar, acabou fechando o negócio. Terminada a negociação, Cristóvão virou-se para ir embora, quando Cipión lhe segura pelo braço e com um sorrisinho cretino lhe diz:

– "No se vá todavia, paisano. Le invito a pagar el almuerzo, a mi e a mis hombres. Por su cuenta, claro."


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A Fronteira Doble Chapa"




    Madrugada. As ruas e a população dormem profundamente. Um automóvel atravessa a fronteira, desce a Sarandi e para na Plaza General Artigas.
    Silenciosa e sorrateiramente, dois vultos descem do veículo e se dirigem ao monumento que há no centro da praça.
    Silenciosa e rapidamente, os dois vestem com uma camisa da Seleção Brasileira o monumento do General Artigas, no centro da praça.
    E da mesma forma silenciosa e rápida, entram no carro e vão-se embora, rindo sem fazer barulho, pra não acordar o povo.

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